domingo, 26 de agosto de 2012

"Guarda em teu coração..."

"Os olhos são a janela da alma..."  Já escutei essa frase algumas vezes, em diversas situações. Nunca soube quem era o autor da frase. Hoje perguntei ao "Dr. Google" e ele me respondeu ser Leonardo Da Vinci. Não sei se a frase é mesmo de sua autoria e também à mim não interessa engrandecer o autor pelas palavras assim colocadas, mas sim refletir sobre elas e sobre o motivo pelo qual me encantam os olhares.
Quem me olha profundamente nos olhos não sei por que razão, me inspira confiança! Parece nada ter a esconder ou a temer. Quem me olha nos olhos parece dizer, antes de mais nada, e sem precisar verbalizar: "eu realmente estou aqui". Sinto como se a troca de olhares antecipasse se realmente estamos disponíveis e abertos uns para os outros. Pais, amigos, irmãos, enamorados... Enxerguem-se! Olhem mais profundamente. Há muitas coisas guardadas no coração. O olhar poderá dizer algumas delas.
O riso geralmente fala sobre alegrias, sobre felicidade, podendo, inclusive, ser bastante superficial. Tanto que rimos das piadas que nos contam quase que instantaneamente, se a compreendemos a tempo disso.
O olhar é diferente. Diz com profundidade, tem a ver com verdade. Nossas verdades, como nos sentimos, como anda o nosso coração. Tanto é assim que dificilmente encontramos uma imagem de Cristo com um sorriso. Mas o olhar é sempre de misericórdia, de compaixão, de amor!
Confesso que são poucas as pessoas que eu SINTO como se VERDADEIRAMENTE ME ENXERGASSEM. Como se pudessem ver também a minha alma, minhas alegrias, minhas dores, minhas tribulações... E como parecem enxergar todas essas coisas, essas mesmas pessoas parecem da mesma forma compreender o que levo no coração, sem julgamentos ou conclusões, apenas com AMOR.
Mas também não é sempre que elas me enxergam, por algumas vezes, somente me veem, me olham por mais um tempo, até que desviam o olhar. Eu mesma certamente já fiz o mesmo. Não há como negar que todos carregamos muitas cegueiras espirituais. Talvez por isso desviamos o olhar. 
Quantas vezes preferimos não enxergar? Quantas vezes passamos o olhar sobre a verdade sem defrontá-la? Eu tenho buscado manter meus olhos e coração abertos, olhar as pessoas mais profundamente, para que elas possam sentir-se como eu me sinto com umas poucas: amada e compreendida. Para viver na verdade, encarar meus medos, minhas inseguranças... Olhos abertos, coração com mansidão e disposição!
Por isso quando quero dizer que amo uma pessoa, procuro primeiramente OLHAR para ela. Às vezes só isso já é suficiente. Com minha família funciona bem! Geralmente ainda verbalizamos, como um afago a mais, não que fosse necessário, nossos olhares já teriam dito tudo... 
Quem assistiu "Avatar" legendado pode recordar das declarações de amor feitas entre Jacke e Neytiri, casal protagonista do filme, sucesso de bilheteria: "I see you..." Querendo dizer um milhão de coisas além da visão.
E assim tem sido comigo nos últimos dias. Os olhares (ou a falta deles) tem me dito muitas coisas. Tenho procurado guardar essas coisas em meu coração, até mesmo porque, olhares à parte, "nem tudo é o que parece"... Nem sempre encontraremos as respostas que nosso coração procura no olhar do outro! Quando isso acontece comigo tem apenas um olhar que me diz que eu posso confiar, que o amor e a esperança valem mesmo à pena...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Uma linha muito tênue...

Já faz muito que tenho refletido sobre quando começa a comodidade. Sim, pois como crente na Divindade, tenho para mim a vontade de Deus, na certeza de que Ele sabe o que é melhor para mim, muito mais do que eu mesma sei. Mas às vezes me parece uma linha muito tênue a que separa a conformidade com a vontade de Deus da comodidade. A partir daí tendemos a fazer a leitura dos acontecimentos para ver onde a vida está nos levando, ou qual os planos que Ele tem para nós. Buscamos os sinais de Deus no que podem ser, em verdade, nossos desejos ou comodidades.
Quantas vezes já não escutamos "Deus quis assim", ou ainda "Essa foi a vontade de Deus". Tudo bem, há momentos em que essas frases são bastante consoladoras. Quando sobrevém a morte de uma pessoa que nos é muito querida, quando perdemos uma oportunidade que parecia ser uma "baita oportunidade", quando termina um relacionamento que "tinha tudo para dar certo"... Mas aquelas frases que escutamos são, muitas vezes, mal empregadas. Usamos para justificar nossas comodidades, para não enfrentarmos nossas dores e não cavocarmos tão fundo para descobrirmos a origem delas: a falta de amor, que, em algum momento, nos deixou uma marca.
Menosprezamos nossas dores. Buscamos respostas, o porquê do sofrimento, sem nos lembrarmos que é das dores do parto que nasce a vida. A dor faz parte do processo, do aprendizado e da própria felicidade. Nada é mais natural que o sofrimento, e por ser assim tão natural é que temos como uma capacidade nata a de transcendê-lo, superar a dor, e ainda tirar dela grandiosas lições.
É também oportunidade para praticarmos as virtudes do céu, como a paciência, a sabedoria, o equilíbrio e a esperança. Sem falar nas faltas que já cometemos, na remissão de nossos pecados diários. Pensando assim, dá até para sentir afeição pelas nossas dores, aceitá-las com maior sobriedade. Somos assim com nossas cicatrizes, por que não seríamos assim com as dores de nossa alma?
Quem não tem um amigo que já não contou uma história sobre uma cicatriz? Eu tenho uma pequena cicatriz no queixo de uma vez em que caí em uma quadra de pedras britas por correr atrás de um amigo que roubou a bola do jogo das meninas (minhas amigas adoravam quando eu contava essa história). Provavelmente ele também tenha ficado com alguma cicatriz relacionada ao mesmo acontecimento, pela qual ainda não tive a oportunidade de me desculpar. Fui uma menina muito moleca, daquelas pelas quais os meninos tinham bastante respeito (para não dizer medo mesmo!). O meu amigo? Nunca mais o vi. No fim, não pude nem continuar jogando com a bola que havia resgatado. Fui parar no hospital!
Mulheres bem resolvidas têm o mesmo sentimento com suas marcas de expressão. Orgulham-se delas como quem orgulha-se da própria empreitada.
Marcas e cicatrizes que contam pedaços de nossas histórias, que curam com o tempo e uma boa pomada cicatrizante.
E as dores que causamos ao nosso coração? E as dores que causamos no coração de um outro alguém? Quanta responsabilidade! Machucar a alma de uma pessoa, que dura uma eternidade... Claro que, sendo bastante otimista, ela terá oportunidade de, por si só, curar a dor através do perdão e da compaixão. Mas isso nem sempre acontece. 
A parte que mais me recordo da mensagem narrada por Pedro Bial, chamada "Filtro Solar" é o trecho que diz: "Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano." (quando meus joelhos incham lembro também da recomendação: "Seja cuidadoso com os seus joelhos.")
Acho que não temos tempo suficiente para sermos mais cuidadosos com o coração das pessoas (que, até anatomicamente é mais importante que um joelho!). A gentileza acaba nos atrasando em nossos compromissos. A caridade então? Nem se fala! A paciência, sempre prolonga as consultas no escritório ou consultório. Escuta silenciosa? No horário da novela! Fala amorosa? Em retribuição aos agrados que recebemos. Já a atenção é esforço sobrenatural.
E assim, diariamente, deixamos de construir um coração mais aberto, um ser humano melhor e uma sociedade mais altruísta. Mas... Como voltei a sonhar, posso dizer que isso é possível acontecer: Dias melhores, superadas as nossas dores. Passado o inverno da alma, há de chegar a primavera. E já não passaremos pelos Ipês da Avenida Brasil, no centro de Santo Ângelo, sem percebê-los e admirá-los...
Importa é saber que assim como amar vale à pena, aceitar nossas dores, também vale! Não falo em lamentações, inconformidades, desespero ou depressão. Antes justamente o contrário. Observar nossos sentimentos e transformá-los em nosso coração. Passar todas as impurezas por um filtro chamado AMOR! Perdoar, arrepender-se, pedir perdão. E, aí sim, aceitar a vontade de Deus. Aos poucos o fardo vai ficando mais leve, se não voltarmos a carregar os mesmos pesos.
A vontade de Deus não é qualquer coisa que você aceite em sua comodidade. A vontade de Deus é a nossa felicidade, como reflexo de nossa vocação maior: o amor, em resposta a um coração aberto capaz de transmitir paz e amor à toda criação, à toda criatura, que é incapaz de machucar o coração de outra pessoa. Aliás, nada tem a ver com comodidade. É necessário muito esforço, muita renúncia à própria vontade. É preciso sacrificar muitos impulsos e reações. Tem gente que conta até 10, sem transformar os eventos dentro do coração. Outros ainda que respiram fundo para não "partir para cima" do ofensor.  Jesus deu a outra face! Tudo bem que as técnicas podem até ajudar a acalmar os ânimos, mas podem trazer grandes prejuízos ao coração se permanecer qualquer resquício de mágoa, tristeza ou raiva.
A minha maior dificuldade é exercitar o discurso com as pessoas mais próximas, com quem convivo bastante. Hoje mesmo, não passadas 3 horas do momento em que acordei, já devo um pedido de desculpas. Sorte que foi tempo suficiente para arrepender-se. Quero ser melhor! Para as pessoas que convivem comigo e para que eu mesma não precise carregar tantos pesos. Quero ser melhor com o meu coração. Nisso me ajuda a oração ou a meditação (que deveria praticar mais). A caminhar para o céu. E não falo em um céu azul de nuvens fofinhas onde pudesse me sentir bem, mas no céu do amor, onde a paz já não mais de explica, e você não apenas se sente bem, mas pratica o bem!
Tenho para mim que Deus nos quer FELIZES, mas que a felicidade não é fácil de se construir. Pode ser simples, mas nem sempre é fácil. Importa em uma consciência tranquila e um coração aberto. E para isso é preciso compreender nossas dores, aceitá-las, transformá-las. Necessário assumir nossos erros, empenhar-se em vencer nossas dificuldades e defeitos. Assumir nova postura. Amar! AMAR! A mensagem da cruz não termina na paixão, e sim na RESSURREIÇÃO!
Mas essa é apenas é a minha forma de sentir as minhas dores, meus amores e minha vida...

domingo, 19 de agosto de 2012

Da janela do meu quarto...

Quando eu era criança tinha o costume de sentar na janela do meu quarto com as pernas para fora. Minhas vizinhas mais velhas, em especial a Dona Antônia, ficavam malucas! Não era de se espantar, afinal, eu tinha em torno de 7 ou 8 anos e meu quarto ficava no segundo andar de um sobrado em um daqueles bairros onde toda criança deveria crescer.
Me lembro até hoje a sensação... Depois de algumas lições e corretivos, não voltei mais a sentar em janelas altas. Só o fazia se tivesse certeza de que não tinha ninguém olhando, pois havia se tornado algo proibido, e porque os 2 andares na infância viraram 7 na adolescência.
Hoje, depois de tanto fintar a janela, me permiti sentar sobre ela.Queria retomar, 20 anos depois, aquela mesma sensação: expirar a liberdade, daquela que vem de dentro e nos faz olhar mais longe, contemplar o horizonte e o infinito. Não pude sacudir os pés como eu gostava de fazer, pois a janela tinha telas, mas voltei a sentar em janelas! E não quero mais perder esse hábito, pois me faz um bem tremendo. Estou até pensando em trocar a cabeceira da minha cama por uma janela, em moldes artesanais, que tanto sucesso tem feito em projetos de decoração de ambientes, assim poderei também dormir na janela!
Brincadeiras à parte, é chegado o tempo de resgatar e reviver coisas antigas. Maravilha! O encontro com a sensação de infância me fez retomar outra coisa que me faz bem: escrever.
Desabafo com o papel como quem desabafa com um amigo de escuta silenciosa, e isso também me traz a mesma sensação de liberdade. Permite que eu mesma me escute. Em diálogos ou conversas, muitas vezes escutamos mais o outro do que nosso próprio coração. O outro sempre tem algo a dizer. E, dependendo de quem é o outro, você terá mesmo algo a aprender. Algo que você deveria escutar, e que o fará acordar para aquilo que está dentro de você. Acontece seguidamente comigo. Provavelmente porque ainda tenho muito a aprender. Todos temos. Mas todos precisamos, principalmente, conversar com o nosso coração. Escutar o que Ele tem a nos dizer.
Mas, voltando à janela, ou ainda andes dela, ao que me fez pegar o impulso para sobre ela me sentar. Foi algo que também não fazia há algum tempo: ler. Simplesmente pelo prazer da leitura. Algo leve, que me fizesse sorrir. O título era entusiasmante: "Nunca desista de seus sonhos", e o autor, Augusto Cury, já me havia sido recomendado por uma grande amiga, Paula, que, por sinal, é uma amiga de escuta silenciosa e muito amorosa, sempre!
O livro eu ganhei de presente recentemente, de outra grande amiga (esta de escuta um pouco mais falante, mas que amo bastante! rss), em um momento muito especial da minha vida, que foi a apresentação/defesa de minha dissertação de mestrado. 
A apresentação, apesar do nervosismo, transcorreu tranquilamente... O que não consigo esquecer foi a emblemática frase pronunciada por um dos examinadores da banca: "VOCÊ É UMA SONHADORA!" De cara me emocionei. O examinador não havia lido apenas as mais de 200 páginas de minha dissertação, ele havia ME LIDO, em um capítulo que eu mesma às vezes deixo esquecido: a capacidade de sonhar.
E o livro com o qual eu fui presenteada fala um pouco disso, e traz, em seu primeiro capítulo, aquele que ele chama de "O maior vendedor de sonhos de toda a história". Seu nome? Jesus!!! Confesso que não gostei muito de sua definição, mas a mensagem, ainda assim, de uma forma ou de outra, tocou o meu coração.
Nunca havia contemplado Jesus como um sonhador. Antes como um realizador, de grandes atos de amor e em prol do amor. Mas foram os seus atos, despidos de maldades e preconceitos, que permitiram que muitos de nós sonhassemos. Excluídos, oprimidos e aqueles que sofrem puderam e PODEM SONHAR, com dias melhores, com uma eternidade de felicidade e liberdade, através da conversão de seus corações para o BEM e para o AMOR ao próximo.
Foi a sociedade de consumo que nos impôs a idéia de que precisamos de muitas coisas para sermos felizes. A felicidade, diferente disso, é possível como muito pouco. É mais simples com pouco! Pode parecer fácil falar para quem aparentemente "tem tudo", mas não podemos esquecer que todos temos nossas misérias...
Noites escuram que abafam nossa capacidade de sonhar, de sermos felizes, como se a vida tivesse muitos fardos que não temos outra escolha a não ser CARREGAR! Nem sempre é fácil compreender o sofrimento, aceitar a nossa cruz, assim como fez Jesus, que, até a sua última gota de sangue, aceitou-a com coragem e amor por todos os seus irmãos. Mas isso não nos impede de sonhar e desejar que sejamos melhor em amor e também em nossas dores.
Ensinamento grandioso o de Cristo: "Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt . 6,21). Sejamos ricos em amor, caridade, paz e bondade, mas sejamos também GRATOS por essa abastança. Eu sou grata à Deus por muitas coisas, mas, hoje, sou especialmente grata pelas janelas e pela capacidade de sonhar!
Uma boa semana para todos!
Lu