quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Meus irmãos...

A poucos dias foi comemorado o "Dia do Irmão", mas confesso que nunca havia celebrado a data e tampouco sabia de sua existência em nosso calendário. Nada mais justo! Celebramos o dia das mães em maio, o dia dos namorados em junho, o dia do amigo em julho, dos pais em agosto... Faltava mesmo comemorarmos o dia do irmão! Afinal, são essas pessoas com quem dividimos a maior parte de nossas existências, são eles que, seguindo a ordem natural da vida, nos veem crescer, evoluir e envelhecer... Muito mais do que nossos próprios pais! Aliás, quando estes se forem, teremos apenas uns aos outros. E como precisaremos uns dos outros!
Soube da data pelas redes sociais, e foram elas que possibilitaram que eu pudesse dar um "abraço virtual" em cada um dos meus irmãos. Isso fez com que eu me deparasse com uma situação que, passados alguns dias, me surpreendeu bastante. Publiquei no mural do meu facebook uma espécie de "cartão" pelo dia do irmão, daqueles que bombardeiam a rede por qualquer motivo, mas não dei o abraço que deveria em minha irmã e também não dei um telefonema ao meu irmão pelo NOSSO DIA.
Gente! Facebook, orkut, twitter não substituem, podem complementar, mas NÃO SUBSTITUEM! Tenho um amigo que costuma dizer que se o mundo tivesse tantos cristãos quanto aqueles que anunciam mensagens de Jesus e dos santos no facebook, o mundo seria bem diferente. De minha parte, sei que preciso repetir isso muitas vezes na frente do espelho e retomar minhas amizades também por SMS, telefonemas inusitados e visitas inesperadas! Preciso praticar mais as mensagens que publico e também preciso ser menos ciumenta com o site! Sim, até isso!!!
Conheço pessoas que preferem suas vidas virtuais do que suas próprias realidades. Chegam em casa, trocam algumas poucas palavras com a família, mas bombam no facebook! Eu mesma já perdi momentos bastante proveitosos em família por conta dos bate-papos e afins, já tive "D.R." por conta do site e até já deixei de render mais no trabalho pelo mesmo motivo! Preocupante! Já pensei em cancelar a conta, em ser mais disciplinada em sua utilização, mas ainda não atingi os níveis esperados.
Deu saudade das cartas que trocava com minhas amigas na adolescência, dos bilhetes românticos, dos cartões dentro de envelopes e até do "tele-car" no aniversário, apesar de hoje em dia ser considerado totalmente "out"... Tudo isso fazia com que dedicássemos mais tempo uns aos outros, mais carinho, mais atenção!
Negligenciamos nossos laços, perdemos os abraços, virtualizamos o que sentimos, modernizamos nossas afeições sem, contudo, termos encontrado um software capaz de nos fazer sentir como um olhar, um carinho, um beijo e um aconchego nos faz sentir. Modernidade líquida, tempo líquido e complexidade, o abismo necessário para que pudéssemos nos reconectar com o que verdadeiramente nos faz sentir vivos e diferentes das máquinas que manuseamos: o AMOR.
Confesso que cheguei a procurar uma citação que coubesse neste trecho em meus livros do mestrado, sobre complexidade, sobre modernidade, sobre a necessidade de despertar na humanidade um novo olhar sobre todas as coisas, um olhar mais humano, de AMOR sobre tudo e sobre todos, de conexão e de troca. Não encontrei, mas me recordei de um texto de beleza inigualável que traduz tudo isso muito bem:

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, 
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, 
e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, 
e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; 
havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, 
mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; 
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
(1 Coríntios 13:1-13)

Aos meus irmãos não seriam suficientes as palavras, somente a prática diária desse amor que eu, em minhas imperfeições, ainda tenho tanta dificuldade de realizar.
Irmãos são um elo indescritível com o amor, com nós mesmos, com o nosso passado e as nossas vivências. Quem tem bons irmãos sabe do que eu estou falando e não desejaria para seus filhos nada menos do que , no mínimo, um irmão. 
Felizmente, os que não tem irmãos de sangue, a vida proporciona, através da amizade ou na figura de um primo próximo, um laço também muito forte, de irmãos de coração! E aí sim minhas mãos não dariam conta de contabilizar os meus irmãos e minhas irmãs... São mais de mil amigos no facebook, mas amigos-irmãos não chegam a tanto, ainda assim, prefiro a realidade à virtualidade! 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Missioneira

Existem músicas que tocam profundamente em nossa alma. Muitas podem fazer o corpo dançar, o pé bater incessantemente, mas quantas realmente conseguem alcançar a profundidade do nosso ser? Músicas que marcam momentos, que embalaram emoções, se tornam, por um motivo ou por outro, melodias especiais, que parecem contar pedaços da nossa própria história!
Existe uma música, em especial, pela qual tenho muita afeição. Gosto muito de cantar toda a sua poesia. Chama-se "Missioneira". Sei que a música era interpretada por Jane Keli, mas não sei se é sua também a autoria. Cantarolava essa música desde os 12 anos, acompanhada de um excelente violeiro. Cantava com vontade, e até mesmo com certa técnica, pois fazia aulas de canto, mas foi somente depois de amadurecer em mim uma verdadeira gana missioneira que senti o corpo inteiro a se arrepiar e meu coração a vibrar juntamente com minhas cordas vocais.
Hoje uma amiga distante me pediu a cifra dessa musica e me fez perceber que não faz muito que seus versos passaram a mexer profundamente com os meus brios. Uma valentia, um sentimento de dignidade pela nossa história, pelo meu chão! Orgulho, por ter nascido gaúcha, por ter nascido MISSIONEIRA.
Pude, então, contemplar os melhores sentimentos pelas minhas raízes. Enquanto criança e parte de minha adolescência participei de invernadas artísticas, estudei a história do Rio Grande do Sul e da Região das Missões, mas pouco me sentia como parte viva dessa história. Gostava dos vestidos rodados desde os 02 anos de idade, mas não compreendia muito bem porque me sentia mais forte e ao mesmo tempo mais doce ao usá-los.
Durante a juventude estudei histórias outras que despertaram em mim o desejo de conhecer diferentes continentes, de viajar o mundo, para, passado algum tempo, retornar às minhas gratas origens e visitá-las para compreender-me melhor enquanto pessoa, enquanto índia, enquanto gaúcha.
Temos uma herança que mescla a pureza dos índios missioneiros com a bravura dos gaúchos e a ousadia dos ladinos. Darcy Ribeiro analisando a civilização das Américas, refere que apesar das rivalidades e diferenças, "Todos se ligam, porém, a um único tronco formativo, como resultantes de um só processo de  ocupação e colonização da área que envolveu, principalmente, espanhóis e índios guaranis deculturados  como partes mutuamente complementares de uma mesma sociedade em formação." O Antropólogo refere ainda que seria uma "proto-etnia capaz de amadurecer como etnia nacional dominadora de toda a região se os sucessos históricos posteriores não a tivessem desfigurado e submergido sobre o alude de outras formações." (RIBEIRO, 2007. p. 417) 
Tudo isso possibilitou que nos fosse transmitida uma eloquência que não se repete com facilidade no mundo contemporâneo. Uma fibra decorrente de muitos anos de peleia, em busca de louváveis ideais. Apesar de não acreditar que possam existir batalhas santas, empunhando espadas e armas de fogo, que não há aspiração que valha mais do que a vida do ser humano, e a paz de uma nação, tenho de convir que a Revolução Farroupilha por uma República Rio-Grandense levantou uma bandeira de liberdade igualdade e fraternidade, que até hoje estampa nosso brasão e que muito nos orgulha.
Chamam-nos de bairristas, e o restante do Brasil pouco entende a relação que estabelecemos com a nossa pátria Rio-Grandense. Não é mesmo fácil de se explicar, mas simples de se sentir e de se experienciar, nas rodas de chimarrão, nos churrascos de domingo, na melodia de uma gaita solitária, ao mirar o pampa perder-se em meio às matas nativas, ao contemplar o azul de nosso céu e o pôr-do-sol de um dourado avermelhado sem igual. Próximo à semana farroupilha esses sentimentos parecem ainda mais evidentes, mas o que importa, em verdade, é que os verdadeiros valores farroupilhas possam permanecer em nossos corações setembro adentro, vida afora!
Não domo cavalos, nossa família não possui nenhuma fazenda, meu pai não veste bombachas diariamente, apenas mantém o bigode, mas nem por isso me sinto menos gaúcha. Ser gaúcho vai além das vestimentas, diz com hospitalidade, com cordialidade e também honestidade! E ser missioneira é sentir todas essas coisas com profundidade, gratidão e devoção à divindade.


Por tudo isso eu não canso de repetir...

"Sou missioneira,
Nasci nos sete povos,
Têmperas de aço das forjas de São João
Colhendo frutas e flores no Inhacorá
Terra vermelha, argamassa do meu chão.

Surgi das cinzas dos povoados primitivos,
Sobrevivendo às balas do Vacacaí
Vi sucumbir as reduções no Pirapó
E as plantações ao longo do Comandaí.

Herdei a fibra de guerreira guarani
Minha alma pura tão leve como a gaivota
Quando os valores e princípios vão sumindo,
Eu sou a cepa missioneira que rebrota.

Fui batizada com a Santa Cruz de Lorena
Pele morena, sou a saga missioneira
Carrego a estampa tão corada dos trigais
Sou seiva verde, rainha das ervateiras.

Sou a semente da consciência embrionária
Da natureza que me embala e me carrega
Sou patrimônio cultural da humanidade
Pra ser prefácio, da história que me renega."

* Fotos: Naimara Cardoso Rodrigues