sábado, 30 de outubro de 2010

Adoção: Permita-se amar!*

A história de Bibiana Fetter

A revista Vick Almeida – Crianças tem uma proposta diferente. Não apenas estampar os encantos da infância em retratos dos “pecorruchos” – como a Vick costuma chamá-los – mas também contar histórias. Pois cada criança que se deixou fotografar conta uma história diferente.
Nesta edição, vamos contar a história da Bibiana Fetter, uma menina linda, de um ano e três meses, que é “um presente de Deus” na vida de Sônia e João Rodrigo, seus pais adotivos. Uma história de amor incondicional, de laços invisíveis, que mudaram o percurso de uma história e transformam tristeza em alegria, esperança e luz.
Para podermos contar a história da Bibi, entrevistamos sua mãe, Sônia, a quem agradecemos, desde já, pela disponibilidade e testemunho de vida, que ficará guardado em nossos corações como exemplo de coragem, amor e verdadeira maternidade.
A conversa começou um uma frase emblemática: “Me lembro que sempre quis ser mãe, isso a vida inteira!” Depois de muitas dificuldades para engravidar, inúmeras tentativas de fertilização in vitro, acompanhadas de frustrações e desgaste emocional, Sônia decidiu, após oito anos, que era o momento de parar e reavaliar. Neste mesmo período, consequentemente, veio a separação.
Mesmo separada, contudo, nunca desistiu da idéia de ser mãe. Ela lembra que sempre admirou pessoas que adotavam, entretanto, à época, ainda tinha o desejo de ter um filho que carregasse a sua genética. “Diante das dificuldades, comecei, então, a acalentar a idéia da adoção. Pedi a Deus, pois eu ainda tinha dúvidas, que Ele me ajudasse a decidir o que fosse melhor e esqueci o assunto. Um dia, simplesmente, comecei a pensar novamente no assunto e a decisão estava tomada. A partir desse momento comecei a me sentir invadida por uma felicidade imensa.” Sônia conta ainda que logo foi ao Fórum dar início ao processo. “Me sentia como se tivesse recebido o resultado positivo do teste de gravidez: Daquele momento em diante me considerei GRÁVIDA, pois eu comecei a esperar por ela desde então.”
Sônia iniciou o processo de adoção sozinha. Sentia-se com condições financeiras e emocionais para tanto. Era um projeto dela, um sonho há muito acalentado. Já imaginava como ela seria, olhando para a foto de um lindo bebê que tinha no espelho do seu guarda roupas. Foi então que percebeu que estava idealizando, inclusive, características físicas específicas. Pediu então a Deus: “Pai, Tu sabes a filha que eu preciso. Manda uma filha PARA EU AMAR. Como ela vai ser, cor da pele, olhos e cabelo, a mim não importa, está nas tuas mãos. A que mandares será MINHA FILHA.” Hoje, Sônia ainda se intriga ao contar: “Embora tenha eliminado aquela foto e nunca mais tenha pensado naquela imagem, Bibiana, aos 3 meses era idêntica a ela.”
A espera seria longa, uma “gestação” de quase 4 anos. Por isso deixou o tempo correr. Não procurou logo fazer o enxoval, pois não queria ficar ainda mais ansiosa com a espera, ansiedade essa partilhada com a família e amigos.
E o tempo passou. Sônia acabou conhecendo o Rodrigo. Eles eram colegas de trabalho e logo começaram a namorar. Rodrigo, por sua vez, sempre adorou crianças e sabia da vontade de Sônia de adotar. “Ele sabia que eu estava na fila e dava o maior apoio. Achava lindo.” Ele mesmo, antes de conhecer Sônia, já tinha, em seu íntimo, a vontade de adotar uma criança.
Sônia e Rodrigo acabaram ficando juntos. Decorridos aproximadamente dois anos desde a entrada na fila de espera da adoção, Sônia começava a sentir que Bibiana estava por chegar – o nome já estava escolhido! Reformou a casa e fez a viagem que tanto queria, antes que isso acontecesse, não sem antes informar a Vara de Infância, pois estava temerosa que “pulassem” a sua vez de SER MÃE, pois era a primeira da fila.
Ao retornarem de Machu Picchu, passaram o final de semana em Santa Maria/RS, onde o assunto recorrente era a intuição da proximidade da chegada da Bibiana. Sônia ainda lembra o conforto que recebeu de sua sobrinha Lara, que disse “Deus tem o tempo Dele, que é diferente do nosso. Quando Ele achar que é a hora, ela vai chegar.”
De volta a Santo Ângelo, já na primeira segunda-feira após o retorno da viagem, Sônia estava no serviço, começando a contar da viagem aos colegas, quando toca o telefone: era a assistente social dizendo que tinha um nenê pra ela!
Sônia conta que por algum tempo teve medo do dia do encontro, pois conhecia histórias de pessoas que rejeitavam um bebê e continuavam na fila aguardando o próximo. Não queria isso para si, não queria ESCOLHER a sua filha. Tinha medo do que poderia sentir, pois estava diante do novo, algo que nunca antes havia experimentado. Conta ainda: “Queria ir lá apenas pegar a minha filha, a que Deus escolheu para mim.” Chegando no centro de acolhimento, não pensou em mais nada, confiou em Deus e disse: “Eu vim conhecer a minha filha!”
Com relação a este momento, eis as suas palavras: “... um momento que eu nunca vou me esquecer. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu olho as fotos dela daquele dia e queria ter o poder de voltar naquele momento. Acredito que não tenha diferença nenhuma do que vivi naquele momento do momento que uma mãe que conhece o seu filho ao nascer. Nunca vou poder diferenciar, pois eu não tive essa outra experiência, mas eu não imagino o que possa ser diferente. Ela é um presente de Deus. Me apaixonei por ela no momento em que a vi. E é para toda a vida. Com certeza a melhor coisa do mundo!”
Daí em diante, muitos capítulos de amor foram escritos nessa história. A primeira vacina, o primeiro banho, a primeira noite, a primeira febre, os primeiros passos... Todos eles possuem imensa dosagem de carinho e dedicação, como toda a relação entre pais e filhos que se amam exige.
Neste momento da entrevista a Bibi chegou com o Rodrigo (o melhor pai do mundo, segundo Sônia). Ainda não a conhecia, mas pude, então, entender um pouco mais essa história que estava a me emocionar em plena noite de sexta-feira. Pois, de fato, ela é uma criança encantadora. Linda!!! Logo veio para o meu colo, muito simpática.
Foram quase duas horas de um testemunho que emocionou, pela profundidade das palavras e pelo brilho no olhar que não foi possível disfarçar. Este espaço é pequeno demais para transmitir toda a beleza dessa história de amor. Perguntada, entretanto, o que teria para dizer para quem tem o desejo de adotar uma criança, Sônia foi bem sucinta, e prontamente respondeu: “PERMITA-SE!” Ela ainda conclui: “Por não conseguir engravidar me sentia incompleta como mulher. Então, entendi que muito mais do que TER um filho, eu queria SER MÃE. Hoje posso dizer que a adoção me realizou plenamente.”
Que esse exemplo de amor inflame nossos corações. Pois o ser humano foi criado para esse sublime sentimento: AMAR. A adoção, como pudemos perceber, é uma oportunidade incrível para amar e ser amado. Faça você também a escolha pelo amor, seja o seu filho de sangue ou de coração!

"Nunca percam a magia dentro do coração, e nunca deixem de ser crianças."
(Anahí Portilla)

* Texto de minha autoria, resultado de entrevista realizada com Sônia Fetter para a primeira edição da Revista Vick Almeida Crianças - 2010.